A brutalidade do assassinato de Santrosa, uma cantora trans de apenas 27 anos, chocou a cidade de Sinop, em Mato Grosso, quando seu corpo foi encontrado sem cabeça, com mãos e pés amarrados. Inicialmente, a suspeita de transfobia foi levantada, dada a natureza do crime e o histórico de violência contra pessoas trans no Brasil. No entanto, a Polícia Civil afastou essa linha de investigação, apontando para um possível envolvimento da cantora com o Comando Vermelho, uma das mais notórias organizações criminais do país.
Santrosa não era uma mulher comum. Ela tinha uma vida ativa na política local e havia se candidatado a vereadora nas eleições de 2024 pelo PSDB. Apesar de ainda ser suplente, ela era uma figura conhecida na comunidade, participando de eventos e manifestações em prol dos direitos LGBTQIA+. Seu desaparecimento no dia 9 de novembro, seguido da descoberta macabra no dia seguinte, deixou não só seus amigos e familiares devastados, mas toda uma população buscando respostas.
Durante as investigações, a hipótese de transfobia foi descartada pelo delegado Braulio Junqueira, responsável pelas apurações no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Junqueira revelou que uma das principais linhas de investigação é a de que Santrosa poderia estar passando informações sobre o Comando Vermelho para outras pessoas, possivelmente rivais. Isso sugere que sua morte foi uma mensagem clara enviada pelo grupo, conhecido por seus métodos cruéis e ostensivos de eliminar ‘traidores’.
A maneira pela qual Santrosa foi assassinada traz a assinatura peculiar do Comando Vermelho. O sequestro seguido de decapitação é uma tática amplamente utilizada pela organização para intimidar e silenciar os que ameaçam seus interesses. Contudo, até o momento, nenhum suspeito foi oficialmente identificado ou detido, o que deixa uma nuvem de incertezas em torno desse trágico evento.
Vivendo com o pai, Santrosa era uma presença vibrante em Sinop, onde lutava por igualdade e justiça para a comunidade LGBTQIA+. Ela havia participado de duas atividades no dia de seu desaparecimento, mas a última vez que foi vista foi na manhã daquele fatídico sábado. À noite, quando o pai voltou para casa, encontrou sinais de arrombamento e várias coisas fora do lugar, pistas que indicam uma possível luta ou sequestro.
Além de suas ambições políticas, Santrosa fez parte de várias iniciativas comunitárias, empregando sua voz não só nos palcos, mas também nas causas sociais que defendia. Sua morte prematura deixa um vácuo não apenas entre aqueles que a amavam, mas também para uma comunidade que a via como símbolo de resistência e esperança em tempos difíceis.
A Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso, diante dessa perda terrível, exigiu uma investigação minuciosa e transparente. Eles acionaram o Grupo Estadual de Combate aos Crimes de Homofobia (GECCH) para garantir que o caso de Santrosa receba a devida atenção e que os responsáveis sejam levados à justiça. A associação reforçou que, ainda que transfobia tenha sido descartada como motivação principal, crimes de ódio contra pessoas LGBTQIA+ permanecem uma dura realidade e os autores desses atos raramente enfrentam as consequências devidas.
O clamor por justiça e igualdade continua a ecoar em Sinop, enquanto as autoridades trabalham para desmantelar os segredos em torno do assassinato de Santrosa. As investigações em andamento poderão lançar luz sobre a verdadeira extensão do envolvimento dela com o Comando Vermelho e quais foram os verdadeiros motivos que levaram a esse crime chocante. Enquanto isso, sua memória serve de chamado para uma sociedade mais justa e menos violenta.
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