Um juiz da comarca de Rio de Janeiro decidiu, nesta terça‑feira (25), que o motorista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves seja solto e que a prisão do estudante universitário Igor Melo de Carvalho seja mantida. Igor, de 32 anos, foi baleado nas costas por Carlos Alberto de Jesus, um policial da reserva que já estava aposentado desde 2020, sob a acusação de que portava arma e participava de um roubo.
Segundo relatos da família, Igor trabalhava como garçom no bar Batuq, localizado na zona norte de Penha. Por volta das 01h30 da madrugada de 24 de fevereiro, ele acionou um aplicativo de transporte para voltar para casa. As câmeras de segurança do estabelecimento registraram o instante em que ele embarcou na motocicleta conduzida por Thiago, então com 24 anos.
Durante o trajeto, Igor percebeu que outro veículo seguia a moto. Poucos minutos depois, ouviu tiros, caiu da motocicleta e, ainda aturdido, conseguiu telefonar para colegas de trabalho pedindo socorro. Foi então que Carlos Alberto, que se encontrava nas proximidades, disparou contra o estudante alegando ter visto uma arma na mão dele.
O policial reserva sustentava que sua esposa, Josilene da Silva Souza, havia sido vítima de um assalto na noite de 23 de fevereiro, por volta das 23h, envolvendo dois homens em uma moto azul. Ela alegou que o casal teria sido abordado na rua e subtraído objetos pessoais. Contudo, a cronologia desses acontecimentos não se sustenta quando confrontada com as imagens de vídeo e os registros do aplicativo.
As gravações mostram Igor deixando o trabalho às 01h06 de segunda‑feira, bem depois do suposto assalto. O pedido da corrida foi feito às 01h27, ou seja, mais de duas horas após o horário alegado pelo relato da esposa do policial. Além disso, nenhum objeto que comprovasse a existência de um roubo – como o celular supostamente subtraído – foi encontrado nas investigações.
Durante o depoimento, Josilene revisou sua versão, passando de “vi uma arma” para “notei apenas um volume na cintura” do estudante, o que levanta dúvidas sobre a sua credibilidade. Não foi localizada nenhuma arma no local e o agente de reserva não possui arma de serviço, conforme informado pela Polícia Militar.
Thiago sofreu lesões ao cair da moto quando o disparo ocorreu e, ao ser liberado, chorou nos braços da mãe, dizendo que viveu as piores horas de sua vida dentro da cadeia. Enquanto isso, Igor permanece internado em estado grave no Hospital Estadual Getúlio Vargas, em Penha.
A Corregedoria da Polícia Militar já assumiu a condução das investigações, analisando as imagens de câmeras próximas ao trajeto percorrido pela motocicleta e verificando se há gravações que possam confirmar ou refutar o relato da suposta agressão à esposa do policial. Simultaneamente, a Polícia Civil está apurando a responsabilidade tanto de Carlos Alberto quanto de Josilene pelos relatos contraditórios e pela possível denúncia falsa.
O caso ganhou destaque na mídia local e levantou questões sobre o uso de policiais da reserva em situações de segurança pública, bem como sobre as consequências de denúncias imprecisas que podem colocar civis em risco. A comunidade de Penha aguarda respostas definitivas, enquanto os procedimentos internos prosseguem para determinar possíveis responsabilizações disciplinares e penais.
Até o momento, a única constatação segura é o tiroteio que deixou um jovem estudante à beira da morte e que ainda gera dúvidas sobre quem realmente foi a vítima de um crime naquela madrugada. A decisão judicial e as investigações em curso prometem esclarecer se a ação do policial reserva foi legítima ou fruto de um engano trágico.
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